Pensei em criar esse blog, depois que minha filha ficou doente e peregrinou por vários hospitais da cidade,até ser diagnosticada com Hipertensão Intracraniana, ou pseudotumor cerebral. Quem quiser saber o que é, há várias comunidades no Facebook onde conversamos sobre o assunto, que não será o deste blog.



Nessa experiência, passamos a viver dentro de hospitais, aprender a dividir o quarto com outro paciente, alterar todas as rotinas.



Uma das fugas pra agüentar a pressão, era escrever.



E são meus escritos que quero compartilhar com todos aqueles que se interessarem.



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Coração de pai e mãe dói

A gente revê muitos conceitos quando vê a vida escapando pelos dedos. Era essa a sensação que eu tinha. Via a Mari escapando da gente sem poder fazer nada. Nós estamos tentando superar tudo isso, mas não tem como apagar essa fase da nossa história.
O mais importante foi contarmos com o apoio de todo mundo. Isso é reconfortante quando estamos mais carentes e nos mantém conectados à realidade.
Nossa filha tem uma força inexplicável. Manteve a lucidez e a esperança, mesmo nos momentos mais difíceis. Ficamos muito felizes de ver que conseguimos passar pra ela os nossos valores e a vontade de viver.
Com essa experiência vimos que não somos nada nesse planeta. Somos um pedacinho do universo, falíveis e mortais. Dependemos uns dos outros e na doença ficamos completamente impotentes frente a ela.
Como diz a Mari: a rapadura é doce mas não é mole.

sábado, 18 de dezembro de 2010

O frigobar

Gente, o frigobar é um caso à parte. Ele está lá para se colocar algumas coisinhas... tipo o iogurte que veio pra ceia e tu não quer na hora, uma garrafinha de água, pra ficar mais geladinha, mas tem paciente que faz quase o rancho da semana e coloca lá dentro. Vai guardando tudo que é fruta que vem e ele nao come. Começa a ficar um cheiro de tudo um pouco. Tem pessoas com muita dificuldade de pôr coisas fora e vão guardando tudo que é resto. Uma nojeira, além da contaminação. Já cansei de pedir pra enfermagem fazer "a limpa" por chegar a coisa no limite. 
Tem que ter coragem e pedir. É uma questão de saúde e quem não se toca precisa se mancar, de alguma forma. Quem nunca aprendeu a dividir espaços, desrespeita demais o colega de quarto e não é justo.

Futilidades femininas

Passou mais de uma semana no hospital? Esqueça. Nem Gisele Büdchen consegue esconder a tragédia. Tudo por um alicate de cutículas. Os pés pedem socorro. Cabelo pra pintar, depilação pra fazer!! Alguém nos socorra. De preferência tem que passar de lado pelo maldito espelho que eles botam bem grande no quarto.
Dá vontade de pedir uma manicure, mas aí entra a nóia: e a contaminação?? E a movimentação no quarto? Nãaaaao dá!
Só rezando pra sair logo.
Enquanto não dá, tente alegrar seus dias. Se o hospital deixar, coloque flores no seu quarto. Elas sempre trazem a idéia de vida nova. Se começarem a murchar, jogue fora e ponha novas, ou peça pra alguém da família. Só não faça isso sem saber se o paciente do lado se incomoda. Sempre pergunte antes. Dividir quarto precisa muita diplomacia.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Agradecendo aos que merecem!


Convenhamos, tem médicos e médicos. Tenho sorte de ter uns ótimos, que estão sempre à disposição, se interessam, sabem teu nome, lembram da tua família. Mas tem uns que por muito favor passam no quarto, quando passam!
Aos que me são caros, meu gastro, minha gineco, minha dermato, minha anestesiologista, minha oftalmo, meu maior apreço.
Aos parceiros fiéis na doença da minha filha, especialmente o neuro clínico, que se precisar morre afogado abraçado na gente, agradeço diariamente. São muitos os que fazem a diferença: o neurocirurgião, a neurooftalmo, a oftalmo, gente que, além de profissional, é humana, tem coração.

Como contornar o pum?

Ninguém deixa de fazer pum, só porque está no hospital. Ao contrário, com tudo que te dão pra comer e tomar, certamente eles aparecem nas horas mais inadequadas.
Dica: leve sempre um tubinho de desodorante feminino bem cheirosinho ou de perfume desse mais leves, de frutinhas, pós banho, e quando o bicho pegar, de uma sprayadinha no ar, ou, discretamente sob as cobertas.
Pro do vizinho, coloque na cortininha que divide os leitos, quando ela estiver dormindo ou no banho. O quarto fica cheirosinho. Mas não pode ser nenhum perfume forte que enjoe quem tá doente.

Dessa vez fui eu!

Novas experiências no semi privativo
Dessa vez fui eu. Motivo? Tratamento dentário!!!
Acreditem:  os médicos deram excessos de remédios e fiz hepatite  medicamentosa e infecção urinaria.
FOOOOda! Sintam o clima: grande hospital de POA, famosésimo, emergência  lotada!! Não tem entrada na emergência pela Unimed, tem que entrar particular, pagar a consulta inicial. Se sair antes de 24h, paga tudo o que fizeram de procedimento,. Se o médico te baixar, aí sai pela Unimed.
Entrei, ufa, vou ser atendida. A guria que faz a triagem foi uma  grossa. Digo que o médico suspeita de pancreatite e ela bem segura diz que nao posso fazer uma pancreatite tão rápido. Olha só! Atendente que mede sinais já dá diagnóstico. Não tem leito na emergência. Me botam no corredor. Fiquei  lá 24h, morrendo de dor, até o Tramal bendito fazer efeito.
Fato1: aquele grande hospital não é mais o mesmo
Fato2: os médicos continuam fazendo pouco das tuas dores.
Fato3: descobri: se tiver dorzinha, diz que é dorzão, se tiver se sentindo mal, diz que tá muito mal.

O abandono do paciente do lado

A família
A diferença que faz pro paciente ter ou não ter alguém da família por perto é algo.
Nessas 8 internações que a Mari teve, e nas que eu já tive e vi amigos tendo, se tem um familiar, o tratamento é muito mais humano. Coisa mais triste ver velhinhos abandonados à própria sorte, com médicos frios, que passam à noite e perguntam pro pobre infeliz se está bem, se fez xixi, e a criatura responde que sim e eles vão embora.  Tu passou o dia ali e viu que não foi nada disso. A velhinha tá perdendo a noção de tempo  e pensa que hoje é anteontem.
As famílias pagam gente suja, mal cuidada, ignorante, pra ficar tomando conta desses pacientes. Que tipo de pessoas são  essas que não tem respeito pelos seus entes queridos, pelos seus familiares mais velhos? Eu não agüento. Me meto, falo o que realmente está acontecendo, pois acho uma desumanidade.
Nessas passagens,  já vi gente morrer. É horrível.
Não entendo como os médicos vão ficando tão frios.
Uma paciente estava com câncer generalizado e não conseguia engolir direito. Mandaram a família fazer fono. A profissional cobrava na porta do quarto, pilhas de notas de 50, porque eles pagavam várias sessões. A coitada morreu dois dias depois. Quase morrendo e mandavam ficar assoprando canudinho!!!!!

Voltando ao cocô

Voltando ao cocô
Gente que tá viva, não tem outra opção: se tiver normal, faz xixi e cocô. Mas se tomar qualquer remédio com opióide (Tramal, Tylex,Morfina  e família), não tem jeito. Se conseguir ir ao banheiro, pode fazer a força que fizer, que só sai umas bolinhas de cabritinho. E olha que tem que forçar. Deus me livre experiência igual.  Só quem já passou por isso avalia.

A última que presenciei

 Conheci a P,  a paciente do lado, baixou de urgência, veio de Canoas porque o médico havia feito reserva de leito pra ela, no nome dele, havia operado a coluna e ela vinha tendo dores de cabeça,  mas o dito viajou pra  Abu Dhabi pra ver o jogo do Inter, e faz três dias que a criatura está sendo mantida a Tramal.
Gente não morre porque é forte!!! Porque se dependesse dos médicos tava frita. E aí a paciente ta lá, o médico não tá, o marido já tá se irritando pois a criatura tá há cinco dias no  hospital e ninguém diz nada, e começam a chegar os tapa furos. Esses são os colegas que vão lá encher salsicha, dizer abobrinha e pensam que estão dando grandes informações.É incrível como os médicos ficam bitolados nas suas áreas. Eles não se dão conta de que tudo o que se quer saber é possível acessar no Google. Tudo bem que não temos o estudo, o conhecimento aprofundado, mas pra saber que cefaléia é cefaléia e que hepatite é hepatite, é só abrir a Wikipédia.
Os laboratórios agradecem muito, pois a quantidade de remédios que receitam e desreceitam e trocam, é o que paga as viagens pro Costão do Santinho, etc, com direito a tudo.
Incrível: seis médicos falaram com a P e nenhum olhou o fundo de olho dela. O mesmo que aconteceu com a mari, e só depois viram o edema no fundo do olho, diagnosticando o que ela tinha.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Kit sobrevivência

Depois de algumas noites no hospital, você aprende que não existe dia e noite. Isso é pra quem está fora dele.
O plantão da noite entra, acende todas as luzes, faz barulho, você dorme como pode.
O hospital tem que lidar com a demanda de exames de quem só vem pra fazer, da emergência e de quem está baixado. Alguns deixam os exames dos pacientes pra noite. Então, é comum ir pra uma ressonância às 2 da manhã, fazer raio x à meia noite. É um estresse.

Segredinho: máscara nos olhos e tampões de ouvido, daqueles que te dão quando faz ressonância. São de uma espuminha que é moldável e se adapta perfeitamente no ouvido. São tiro e queda pra abafar o ronco da colega de quarto e os barulhos indesejáveis.

O acompanhante

Fazer companhia pra quem está doente é uma arte.
Você quer que tudo se resolva, não agüenta mais ver seu familiar sofrendo, tendo dor constante, mas tem que se mostrar forte, minimizar a dor, tornar mais leve o ambiente e o astral. Jogo de cintura é pouco.
O banheiro é o lugar ideal pra cair naquele choro enquanto a paciente tá dormindo, pois dá pra abafar o choro na toalha.
Dar força é obrigação, é responsabilidade, é respeito com o sofrimento do outro.

Dor de cabeça é invisível

O paciente com dor de cabeça é invisível.
A dor não é externa, ninguém vê. E o que não se vê, não existe ou não se consegue medir.
Atualmente estamos pensando em usar um curativo bem grande em qualquer lugar do corpo, para que as pessoas vejam e achem que tem alguma coisa errada.
Quem não tem dor de cabeça, não avalia que a TV é muito alta, que o barulho do ar condicionado ou da tampa da lixeira de pedal batendo, são barulhos insuportáveis.
Quando se fala “Ela tem dor de cabeça”, o povo pergunta: “Já tomou paracetamol?”
A resposta dentro da cabeça é “pega o paracetamosl e enfia”, mas pelo respeito social, vem a frase pronta: “não resolve”. “E dipirona?, perguntam. Mas que raio: não é dor de cabeça, é dor na cabeça porque o líquor está fazendo pressão.

A diferença entre ser pai e ser mãe de paciente

PAI: chega, pergunta como está e desata uma conversa sobre qualquer coisa, menos sobre o problema (isso por uns 15 minutos). Depois sai do quarto (pra não ficar muita gente) e vai ouvir música no fone de ouvido do celular ou comprar o jornal pra ler.
MAE: chega, pergunta como está, ajuda com o café, vê o que está precisando, ajuda a ir ao banheiro, vê o que está precisando, organiza as coisas que ficaram acumuladas do dia anterior, ajuda a subir a cabeceira da cama, tira a mesa da refeição, vê se precisa de mais alguma coisa, confere roupas que faltam, guarda as roupas que precisam ser lavadas, vê como está passando, ajuda a se posicionar melhor na cama, senta um pouco, alcança a água, tenta ler. Ajuda de novo a ir no banheiro, carrega as coisas pro banho.Pensa no que pode fazer pra diminuir o desconforto. Fala com os médicos e os enfermeiros.
O pai pensa em trazer coisas. A mãe pensa em fazer coisas.
O pai é lógico. A mãe não é. Se precisar de tecnologia, computador, fones e outros eletrônicos, o pai faz isso com perfeição.
Só que chega uma hora, em que é preciso bancar o Grilo Falante e sussurar no ombro do pai: lava as roupas que estão na máquina, porque tá faltando meia. Compra comida pro cachorro, porque ele tá comendo pão integral há dois dias. Vê se as verduras da gaveta da geladeira não apodreceram.
Vamos ser boazinhas e reconhecer que se a mãe não tá lá, o pai faz tudo isso direitinho, mas se a mãe tá, é muito mais fácil deixar pra mãe.

Os parentes

Sabe quando é que você conta com eles? Quando está boa.
Ficou doente, aí vem: trabalha muito e não tem tempo de visitar; não trabalha, mas não tem tempo de visitar; acha que vai atrapalhar e não vai visitar, e outras desculpas. Se ficar doente em época de veraneio, então, não conte com a visita deles, pois ligam e te dizem que vai dar tudo certo e vão pra praia pegar um bronze. Só tem um detalhe: se for o inverso e você fizer isso, ficam de mal. Imagina, não ter tempo de ver a sobrinha, a prima, a tia, a avó.
Uma amiga dizia que parente é serpente. Outra dizia que amigo a gente escolhe e parente a gente tem e não pode trocar. Em parte é verdade, mas sempre tem uma amiga que vira a tia, a outra que se importa mais que o primo. Não sei da família dos outros, mas na nossa, quando se precisa, conta-se mais com os amigos.
Nesses momentos, a filosofia passa a ser: te importa com quem se importa contigo.

Saindo do quarto

Ficando mais  tempo, tu começas a conhecer a população do andar. A acompanhante do velhinho, que a família paga pra não ter que se ocupar cuidando dele; a esposa, cujo marido teve um AVC e faz tricô enlouquecidamente para passar o tempo; aquele paciente estranho, que operou a cabeça e já está caminhando, mas recebe visitas de duas mulheres diferentes??!!Nenhuma das duas parece a mãe ou a irmã  e ambas se despedem com beijinhos!!
A equipe de cada turno: a técnica simpática e a grossa; a fisioterapeuta eficiente e a que entra batendo o saltinho fino e tá ali mais cumprindo horário; a nutricionista, a moça da limpeza.
Importante: guarde bem o nome de todos eles, pois são quem você mais verá enquanto estiver lá, e é sempre gentil agradecer e chamar as pessoas pelo nome.
Aos poucos, começam a trocar historias de vida contigo. Uma tá com o filho doente em casa, mas está ali, cuidando da sua doença; outras, fazendo planos pra casar; o cara que sai correndo pra outro emprego.
A sensação é que se está vivendo dentro de um filme, que não queremos ver até o fim, mas não temos como sair.  

O cocô

Se você precisa tomar remédios fortes pra dor, tenha certeza: eles vão te deixar sem fazer cocô. Além disso, pra alguns, só trocar de ambiente já altera esse hábito.
Passa dia, passa dia, eles te oferecem uma bela lavagem. O nome é lindo, te propõem um enema. Tomando tudo que é remédio, fura veia, perde veia, toma soro, faz exame de sangue, de urina, ressonância, RX, o que é mais um enema?
É você sentir as tripas virando do avesso e sair correndo pro banheiro carregando o cabide do soro, esperando que a colega de quarto não tenha dor de barriga junto com você.
Dica: fale com seu médico e leve no seu kit sobrevivência uns supositórios de glicerina. Eles não atrapalham em nada, a não ser que o seu problema seja alguma obstrução, e deixam você bem mais leve, com certeza. Mas não esqueça: é preciso ver com o médico se não vai interferir no seu problema.
Se você nunca experimentou, talvez a primeira vez seja meio atrapalhada, mas tudo se aprende e a dor ensina a gemer. Com certeza o custo/ beneficio será um alívio.

Os telefonemas

Sabe aquela chata do trabalho que nunca te liga, nem sai contigo, soube que você foi pro hospital e te liga? Aluga teu ouvido e a tua dor de cabeça sem desconfiar que, se tu tá num hospital, é porque tu não tá bem, senão tu ligava pra ela pra tomar um café no shopping. Coitada. A pessoa tenta ser gentil, mas não dá, principalmente com dor. Vem com todas as frases de efeito: tudo vai melhorar, se tu precisares de alguma coisa, me liga. Tu tá passando por isso porque tu é forte pra agüentar. Deus só nos dá o que sabe que podemos suportar, e outras pérolas, tentando confortar.

Os amigos

São aqueles que estão ali contigo. Estar ali não quer dizer estar lá dentro do hospital. São todos aqueles que pensam em ti, rezam, fazem pensamento positivo, macumba, torcida organizada, botam teu nome em roda de oração, embaixo do santo, mandam mensagens, recados por outros, ligam, sofrem contigo. Enfim, quem te dá apoio quando tu não tá bem.
É uma surpresa ver gente que nem é tão intimo e se solidariza contigo, como aquele vizinho que é meio durão, que a gente mal se vê no prédio e vem te visitar, dizer que se importa com tua saúde.
Essa rede que se forma, é invisível aos olhos, mas totalmente palpável na emoção. Quando amigos  te apóiam, a dor fica mais suportável.

Quando rodar à baiana

A situação mais difícil de enfrentar é quando a colega de quarto NÃO SABE que está num hospital e pensa que pode fazer piquenique à meia noite, com TV e tudo o mais.
Aí é hora de bancar a maluca e pedir pra trocar de quarto.
Nesse momento, é preciso puxar a diplomacia do dedão do pé e explicar calmamente que a paciente não está tão mal quanto faz parecer, que você não dorme porque ela faz piquenique, ou joga carta com o marido à meia noite, que o dito usa o banheiro dos pacientes e urina no assento do vaso sanitário, e que você, pobre paciente, só quer dormir, melhorar e ir embora, mas enquanto não dá, que pelo menos tenha sossego.

A dipi

Lidar com a dor talvez seja a situação mais estressante, pois você fica no limite da impotência.
A cada troca de turno, se você pede remédio pra dor, vem a maldita seringuinha de dipirona.
A dor já está no limite do insuportável e eles querem te empurrar a dipi. Só quem sabe do nível da sua dor é você.
Quando dá vontade de botar o enfermeiro a correr, porque diz que não tem nada no seu prontuário, mas você sabe que o médico deixou, peça pra ver o seu prontuário. Lá vai estar anotadinho aquela maravilha de medicamento que alivia ou tira a sua dor, e que os técnicos relutam em dar.

Os remédios

Vai ter horários fixos de medicamento?
Mais uma dica: leva uma agenda ou caderninho junto. Anota todos os nomes e a hora do que estão te dando. Sempre acontece de furar algum horário, atrasar, etc.
A rotina da enfermagem é dura, corrida e, na hora que tocam várias campainhas ao mesmo tempo, nem sempre você é o primeiro a ser atendido.
Se você toma algum remédio em jejum, antes do café, é sempre bom ter uma reserva sua, pois várias vezes ele vai chegar junto com o café, mesmo que o médico tenha prescrito meia hora antes.

As mazelas

Ouvir as lamúrias da paciente do lado é de matar.
Não dá pra viver o teu problema e o do outro, mas tem gente que aluga o teu ouvido pra desfiar o rosário.
A cortininha que separa as camas é uma aliada nessas horas. Mostra até onde vai o teu limite e o teu espaço.

Hora de comer

Essa é a parte boa, quando a comida é boa. Mas mesmo assim, é comida na hora certa, sem cozinha pra limpar depois.
Pro acompanhante, restam as cafeterias e bares, mas até que hoje em dia estão se preocupando mais em melhorar o que é servido nesses lugares. Tem uns bolinhos caseiros com café com leite, que são uma delícia, principalmente porque acompanhante não tem hora certa pra comer. Come quando dá.
Alguém já comeu torrada e café no banheiro, Sentada na tampa do vaso, à meia-noite? Quando é necessário, a gente faz isso, pra não acender a luz e perturbar o sono dos pacientes.

A visita do médico

Essa é uma historia à parte.
1°- não tem hora
2°ele te pergunta uma coisa e parece que não ouviu o que tu respondes
3°- não tenta dizer que não agüenta mais, nem chora, porque eles não aguentam isso, acham que tu tá estressada, dão calmante, etc.
Em hospital escola tem os residentes. Aí, tem toda uma hierarquia. Tem o pirata, o papagaio do pirata, aquele que tá sempre grudadinho no médico, e os periquitos do pirata, aquele bando que fica em volta. Tem o da planilha, que anota tudo, tem aquele que quer agradar e faz perguntas nada a ver, como “tu faz faculdade onde?” ????? – quando a pessoa tá morrendo de dor!! Ou: “tu tá com dor onde?” – quando a pessoa baixou num hospital de neuro por dor de cabeça. A resposta na cabeça todo mundo sabe qual é!

Arroz de festa

As técnicas de enfermagem são uns amores, em sua maioria. Atenciosas, organizadas, sabem seu nome. Mas cada uma tem o seu jeito.
Os mais aparecidos:
- a arroz de festa: ela é atenciosa, mas no fundo da sua vozinha alegre, parece que é meio forçada pra ser gentil e salta a toda hora na sua frente, fazendo um CHEGUEI!
- o piadista- faz piada o tempo todo e tu não sabes se tá falado sério.
- o pau-pra toda-obra: é sempre chamado quando tem que fazer força,  tirar os gordinhos da cama, usar o muque.
- a discreta: entra e sai com a mesma elegância, fala manso, cabelo sempre arrumado, não é de muitas palavras, mas dá conta do recado.
- a antipática: tu faz uma perguntinha e ela devolve uma resposta, junto com a marca da ferradura na tua testa. E não pensem que não tem, porque tem!!

Dividindo o banheiro

Pode parecer mentira, mas ainda não conseguimos pegar uma colega de quarto que use o banheiro e deixe 100%.
A pior coisa é banheiro sujo.
Uma dica importante: no hospital não se deve usar perfumes de banheiro, detergentes bactericidas e similares. Não permitem usar nem enxaguante bucal com ação bactericida. Por quê? Porque as bactérias não eliminadas se tornam mais resistentes e para combatê-las é difícil . Isso favorece a infecção hospitalar. A limpeza dos quartos é feita só com água sanitária e álcool.
Aí volta a dica do borrifador com álcool. Você não estará interferindo na limpeza do hospital. Só se prevenindo.
Mas no geral, parece que as pessoas não dão muita bola pra higiene do banheiro e nós, as neuróticas, não podemos ver o banheiro sujo e ter que compartilhar. Esse é mais um  jogo de cintura  que a gente aprende dividindo o espaço.

O barraco da Creusa

Dá pra imaginar a cena?
Você entra no quarto semiprivativo, já pensando em quem vai encontrar, como vai dar pra lidar com a  sua doença e mais a do paciente do lado e encontra a cena: banheiro cheio de roupas lavadas e penduradas, inclusive as meias do Creuso, que dorme lá, porque a mulher tem histórico de depressão e quer morrer, presas com piranha de cabelo na beira da janela; uma bandeja com comida (da outra) sobre a mesa que deveria ser a sua e estar vazia lhe esperando: limpa e sem nada em cima!!; um frigobar com os potinhos plásticos das saladas cheios de sobras de comida que a Creusa guarda das refeições do paciente pra quando o Creuso chegar do trabalho pra ficar com ela. Só que o Creuso se atrasa e ela liga botando os cachorros. Aí o Creuso chega às 22h com janta pros dois, coca-cola e louco pra conversar. Detalhe: a Creusa faz hemodiálise, é diabética, o rim não funciona, coitada. Só que quando ela volta da hemodiálise pega o macinho de cigarros, isqueiro e desce pra frente do hospital pra fumar!! Não duvide. Aí, tu pensa: quem mandou tua família te dar educação e ensinar a respeitar o, espaço dos outros.
É aí que entra o “rodar à baiana”
Seu direito de paciente é poder descansar e você pede pra providenciarem sua ida pra outro quarto.
Nessas várias hospitalizações, o que descobrimos é que tem gente que faz isso pra se passar por louca e, com isso, consegue ir ficando sozinha no quarto, porque ninguém doente agüenta uma situação assim. E aí, a esperta fica com quarto privativo!!
Por isso é importante sempre manter a cordialidade com o pessoal do posto de enfermagem, pois nessas horas precisamos que interfiram a nosso favor. Você precisa deles mais do que imagina.

O banheiro

No semi privativo, além da cruz de dividir o quarto com quem não se conhece, tem também a divisão do banheiro.
Vai desde a freirinha que não pode sair da cama (aleluia!! O banheiro é só meu!!), até a Creusa que vem com o marido e os dois tomam banho, deixam o banheiro todo molhado, roupa lavada pendurada, parece o puxadinho da casa.
Não achem que é ficção. Já passamos por isso. E o casal era da capital. Às vezes isso acontece quando a paciente é do interior e o acompanhante não tem onde ficar, mas naquele caso, era acampamento mesmo. O cara chegava do trabalho no final do dia e ia descansar no hospital.
Nessas sete hospitalizações demos alguma sorte. Várias pacientes estavam presas ao leito e o banheiro ficava só pra uma, mas nem sempre é assim.
Uma dica ótima é comprar um borrifador em qualquer 1,99 e levar com álcool para o quarto. Fazemos sempre isso, quando a Mari interna. Faço uma passada geral de álcool em tudo: trinco de porta, torneira, assento de vaso, Box, mesa de refeições. Depois, é só deixar guardadinho no armário do quarto pra quando precisar.
Na correria do serviço do hospital, nem sempre dá tempo do pessoal da limpeza higienizar a mesa de refeições. Se não tem álcool que levou de casa, pega toalha de papel e o álcool que é colocado nos dispensers do quarto, só que esse seca mais rápido.

O motivo do blog

Pensei em criar esse blog, depois que minha filha ficou doente e peregrinou por vários hospitais da cidade,até ser diagnosticada com Hipertensão Intracraniana, ou pseudotumor cerebral. Quem quiser saber o que é, há uma comunidade no Orkut onde conversamos sobre o assunto.
Nessa experiência, passamos a viver dentro de hospitais, aprender a dividir o quarto com outro paciente, alterar todas as rotinas.
Uma das fugas pra agüentar a pressão, era escrever.
E são meus escritos que quero compartilhar com todos aqueles que se interessarem.